terça-feira, 27 de outubro de 2009

azeiteira de gema... mas com orgulho


Deve ser do conhecimento geral que sou literalmente serrana ou como diria um queque que conheço, azeiteira…
Para os leitores mais atentos não terá sido difícil descodificar a minha personagem, natural do distrito de Castelo Branco, a minha infância foi gerida numa aldeia perdida entre duas serra onde ia para a escola com o “farnel”* as costas numa caminhada de 1,5km… cresci entre animais, pinheiros e muita terra. Posso me orgulhar de ter tido uma infância feliz, era mais do género Maria-rapaz, subia às árvores e rebolava na erva fresca de primavera, jogava a bola na terra batida e escondia-me na gaiola dos coelhos para a minha mãe não me escovar os cabelos (o que terminou com 10 anos quando decidi corta-los bem curtos), lembro-me da minha rua ser ainda em terra batida, de chorar e contar histórias de vida aos cabritos quando chegava a hora do seu abate. Relembro hoje o cheiro da resina nas mãos quando num dia quente de verão ia com o pai buscar lenha para a lareira de inverno, e da dor nas mãos de a estar a cortar com uma machada. Recordo também o toque dos gasalhos* no inicio do Outono, o cheiro da agulha* molhada ainda no pinhal, e das tardes de verão, em que passava horas deitada debaixo dos pinheiros a observar as nuvens. Saudades das tardes de verão passadas na ribeira a dar mergulhos fantásticos e a pescar peixinhos ao saco, das manhãs de domingo aos pulos na cama dos pais onde eu ou o mano mais velho saiamos a chorar, ou porque o pai fazia tantas cócegas até nos magoar ou porque um caia da cama a baixo, mas depois da mãe chamar para o pequeno almoço de torradas e leite quente tudo ficava bem.
Recordo a mãe das minhas vizinhas a Tia Joaquina me presentear com rebuçados sempre que se cruzava comigo, do olhar frio dos meus avós, de cair constantemente da escada abaixo, de espetar paus nas pernas, das negras pelo corpo todos, das bostelas nos joelhos, queixo e afins. De apanhar rãs, porcos-caixeiros, de alimentar pássaros que caiam dos ninhos e ainda não conseguiam voar, de armar custelins *, de chorar e bater nos rapazes porque tapavam buracos de formigas e tentar a todo o custo voltar a abri-los, de andar na mota do pai, de chamar a mãe porque estava a levar surras do mano… enfim tenho saudades…
Aos 13 anos os papas optaram por comprar apartamento na vila a 9km, mas nem por isso deixaram de ter uma vida de aldeia. Com 16 sai de casa para estudar, comecei a trabalhar ao fim de semana num restaurante e aos poucos criei a minha independência financeira. Terminei o curso e aventurei-me no mundo primeiro em Melgaço e depois Coimbra, mas nem tudo correu bem, e a minha ingenuidade não ajudou muito, queria acreditar que o “mundo” era a minha pequena aldeia onde vizinhos são família e F*****-me bem F*****. A quase um ano os papas optaram por emigrar e deixar a meu cargo mano e toda esta vida que tinha deixado com saudade para trás, responsabilidade e confiança a mais, acho!
Mas isto tudo para dizer que sou serrana com orgulho, tenho hortas que cultivo com muito gosto e animais que embora sejam para abate respeito com muito carinho. não me incomoda andar suja de terra, de partir as unhas e ganhar caules nas mãos, o estrume dos animais embora desagradável não me trás nojo, cultivo as minhas hortaliças, algumas frutas, azeite, vinho para o pai, de tudo um pouco. e podem achar ridículo mas as prendinhas de natal do pai e da mãe estão em crescimento, para o pai espera-lhe um porco e para a mãe uma ovelha, e sim um relógio ou um perfume seriam bem mais fáceis de adquirir, mas tenho a certeza que iram dar mais valor ao que os espera :) . tenho orgulho em mim, admiro-me por conseguir, mas sei que esta não é a vida que quero, embora seja a que vejo com mais qualidade de vida… posso dizer que AQUI SOU FELIZ…
Depois deste texto ainda vão a tempo de me chamarem azeiteira, campónia ou algo do género…
Mas como se diz por aqui, o bom filho a casa torna…

****
Farnel__ almoço
Gasalhos__ cogumelos
Agulha__ caruma, rama dos pinheiros
Custelins__ armadilha para pássaros

carinhosamente

12 comentários:

  1. Sabes, ao ler-te, fizeste-me recuar uns 20 anos atrás... sim, não estou a exagerar, uns bons e bonitos 20 anos. Naquele tempo em que fazia tudo aquilo (e mais alguma coisinha) que tu fazes, e como eu sinto saudades desse tempo. O único tempo em que fui realmente feliz. Eu sei como te sentes. Talvez poucas pessoas possam compreender o real significado dessa felicidade, mas olha que eu sei bem o que é ser feliz desse jeito singelo, doce, natural, como não há outra maneira de o ser. És uma grande Mulher, e orgulho-me muito de ser teu Amigo. Deixa que te chamem camponia à vontade, tu e eu sabemos o quanto felizes podem ser os 'camponios', e que de nada fazem um sorriso e que de tudo fazem o mundo...

    Um beijo grande, grande :)

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  2. black horse__ que lindo o teu comentario, fiquei nostalgica... sim é bem verdade, é uma felicidade inocente e singela... obrigada pelas tuas palavras meu querido

    beijo gigante

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  3. Que bonito! Quando era pequena também gostava da vida do campo (a minha família é de lá) mas aos poucos fui crescendo e fui lhe criando um pouco de "artrito" nada contra as hortaliças... Contra o deserto, as casas caídas, a tristeza e a solidão. Ainda bem que te identificas com as tuas origens querida! De louvar! =)

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  4. eu gosto de ir à aldeia dos meus pais, mas é só por uma semana, não tenho nada para fazer nem ninguem conhecido... mas tb adoro mexer na terra, sempre que dá, lá vou eu!

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  5. Adoro o campo e sou citadino. A terra dos meus pais fica na beira baixa e adoro ir lá...
    Saudações

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  6. Não sejas orgulhosa. Sê antes contente e/ou feliz por ser serrana. "Quem é orgulhoso a si próprio devora." (William Shakespeare)

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  7. Adorei o teu texto! Apesar de ter nascido e crescido na cidade, tenho raizes aldeãs! Passava as minhas ferias tb a fazer muitas das coisas que descreveste! Tenho boas recordações sim! ;) beijocas

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  8. De facto... é de ter orgulho mesmo.
    Eu sou a meias... nasci na cidade... cresci entre a cidade e o campo... Diga-se bem no interior do Alentejo.
    Recordei muitas coisas com o teu post. Amei.

    Beijinhossss

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  9. Olha lá, Rute Marlene, estive a ler o post com muita atenção, gosto muito da tua postura perante a vida, acho que és uma rapariga muito corajosa e até poderias ser um bom exemplo para muita gaja estúpida que anda por aí a escrever posts sobre malas, sapatos e gajos do cinema com grandes músculos (mas que se calhar até pegam de empurrão lol).
    Mas há algo na tua escrita que me confunde.
    Tu escreves num teclado estrangeiro, falas algum dialecto regional de Castelo Branco, ou na escola não te ensinaram a colocar acentos nas palavras?
    Talvez devesses recorrer a um editor de texto (tipo o Word) que tem corrector ortográfico, ou mudares do Internet Explorer para o Firefox, que já tem o dito corrector incorporado.
    É que acho uma pena uma jovem que até escreve bem sobre temas interessantes, borrar a escrita por causa da falta de acentos.
    Uma ou outra vírgula no sítio errado, uma ou outra esporádica falta de acentos, especialmente em comentários, onde estamos quase sempre apressados, até se compreende, porque ninguém pode ter a pretensão de saber tudo. Mas um grau de incidência nos mesmos erros não podem ser considerados meros descuidos.
    Se tiveres moderação de comentários não publiques isto, porque não é minha intenção achincalhar ou gozar com ninguém. Só gostava de ver os teus textos mais "limpinhos" de erros. Nada mais, ok?

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  10. picamiolos___ Obrigada pela observação, na verdade os acentos fazem-me cócegas e não é por não saber onde eles pertencem mas por mera preguiça de os colocar, mas tal como referi agradeço a critica que considero construtiva e daí ter publicado o teu comentário mesmo tendo-me pedido para não o fazer. Sê bem-vindo ao meu desarrumado e serás sempre bem vindo desde que a Rute fique por esses lados lool ok?
    :D

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  11. Primeira vez que por aqui passo. Gostei muito, principalmente deste post!!

    Identifico-me em quase tudo, talvez as diferenças se façam pelo local geográfico.
    Nasci em Lisboa mas as férias grandes eram sempre passadas nas aldeias, e digo aldeias, porque ia para várias, onde tinha vários familiares, mas umas perto das outras.

    Desses tempos ficaram muitos amigos que com bastante assiduidade os revejo e faço gosto em trabalhar no campo sempre que lá vou.

    Até já pondero seriamente em regressar e fazer da minha vida essa vida cheia de qualidade mas que infelizmente de proveitos financeiros trás poucos. Pois como se costuma dizer, a agricultura dá muito trabalho e pouco proveito...

    Foi bom relembrar algumas das peripécias passadas ao ler o teu texto e a identificar-me com elas...

    Obrigada por isso.

    ;)

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  12. leve_brisa__ sê bem vinda ao meu desarrumado e serás sempre bem vinda. ainda bem que trouxe um pouco de coisa boa ao teu dia:D

    beijokinhas aparece sempre

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