Sofá, cobertor, a minha música, Internet…..
Numa das muitas viagens algo me chama a atenção, um relato descontraído sobre amor que não poderia deixar de partilhar:
"Eu nao acredito mais nesse tipo de relacionamento.... Os homens não são capazes de corresponderem ao amor de uma mulher. Agora tenho certeza de que a única pessoa que e capaz de amar de verdade são as mães...." Isis
Como podem ver, os leitores, embora mobilizados pelo mesmo e arrebatador sentimento, dividem-se quanto à pureza, a qualidade e intensidade do amor. De minha parte, lamento que o descrédito nos homens leva algumas leitoras a desacreditar no amor. Poderia relacionar aqui uma série de motivos e exemplos em sentido contrário, principalmente os inúmeros depoimentos das leitoras de nossa página. Afinal, falamos do sentimento que não se esgota nunca. Como bem observa o novelista Manoel Carlos, em seu livro "A arte de reviver" (Ediouro), a beleza e os sentimentos nos deixam inseguros. Vale lembrar os versos de Manuel Bandeira, já neste espaço mencionados uma vez, que tratam magistralmente do tema:
O que eu adoro em ti
não é a tua beleza.
A beleza, é em nós que ela existe,
a beleza é um conceito
e a beleza é triste.
Não é triste em si, mas pelo que há nela de fragilidade e de incerteza.
A mesma sensação temos diante do amor, que nos desconcerta e nos desorienta. Quantas vezes ficamos paralisados diante desse sentimento, sem saber que caminho tomar, o que fazer. Augusto dos Anjos, no belíssimo soneto "Idealismo", exclama: "O amor! Quando virei por fim a amá-lo?" Me parece que está aí a possibilidade de acerto: amar o amor. Ou como nos ensina Drummond em sua antologia: "amar se aprende amando".
Quem já não se viu, indagando de si mesmo: amo pouco, amo demais, não amo? E ainda mais crucial, com a dúvida: será que o que sinto é amor, amor de verdade? Ou vai passar, como outros passaram?Manoel Carlos relata, para exemplificar, a história de uma jornalista sua amiga, que cada vez que o encontra anuncia um novo amor.
"Ainda ontem, ela me pegou na garagem:
— Estou amando outra vez!
— Parabéns.
E já desliguei o motor, porque os encontros com Selma são sempre demorados. Ela continuou, com a corda toda:
— Quer dizer: outra vez, não, porque desta vez é pra valer! Agora que eu vejo como estava enganada com o Luiz e com os outros todos! Não era amor o que eu sentia! Aliás, percebo que nunca amei, a não ser agora. O que eu sentia por eles era... era outra coisa, que eu não sei definir. Só sei que não era amor! Esse agora mexe mesmo comigo, me deixa zonza, muitas vezes me tira a paz, mas também me faz rir. Olha: hoje eu sei que rir é fundamental no amor. E que não se deve amar, nem mesmo chegar perto, de homem carrancudo, mal-humorado, porque esses defeitos são doenças, doenças terrivelmente contagiosas. E quando nos damos conta, estamos também de mal com a vida. Lembra do Ricardo, do Sérgio, do Rodrigo? Com eles eu vivia pra baixo e chorava por qualquer coisa! Agora eu aprendi a rir, a ser feliz!
E antes que eu dissesse qualquer coisa:
— Tenho uma foto dele aqui pra te mostrar. Olha só. Tiramos em Búzios, domingo passado. Não olha pra mim, que eu estou gorda! Olha pra ele. Não é uma gracinha? Se chama Mauro. Ele é tudo que eu podia desejar. Agora, tem uma coisa importante: não apresento pra amiga nenhuma. Não mostro nem a foto, porque o Edu, lembra do Edu, que jogava ténis? O Edu era mais ou menos assim como o Maurinho, alegre, solto, e acabei perdendo ele para uma amiga, a Neide, você conhece! Tremenda sacanagem! Mas aprendi: agora só apresento namorado pra amigo. E depende do amigo, porque você sabe como é: os homens hoje são todos bi. Saiu até matéria sobre isso nos jornais!
Você viu?
— Não, acho que não — disse eu, já meio confuso.
E ela encerrou com chave de ouro:
— Olha: homem mesmo, como antigamente, como meu pai, está muito difícil de encontrar! Bem, to indo pra rua, fazer uma matéria sobre o assunto. Bye. Vou te apresentar o Maurinho! Esse vai ser o meu amor pra sempre! Eterno! Vai me fazer casar de noiva e ter pelo menos dois filhos!
E lá se foi a Selma, vaporosa e linda como sempre. E enquanto ligava o carro e saía lentamente da garagem, pensei: eterno? Até quando? E como comecei com Manuel Bandeira, com ele termino:
Aquele pequenino anel que tu me deste,
— Ai de mim — era vidro e logo se quebrou.
Assim também o eterno amor que prometeste,
— Eterno! Era bem pouco e cedo se acabou".
in: http://blogs.abril.com.br/amordealmas/2009/02/qualidade-intensidade-amor.html
Questões interessantes se levantam, que será mesmo o amor? Que vantagens trará? O que fará para beneficiar o mundo? Qualquer pessoa poderá provar esse sentimento?
Não sei, e nem sou a pessoa indicada para responder a tais questões, não consigo ser fiel a tal sentimento, há sempre algo que se eleva mais alto.
Assumo a minha descrença, mas continuo sonhadora, sou renunciante e mesmo assim pretendo obter. Sou a contradição, o abismo do ser humano, sou negligencia e mesmo assim não sou mais nem menos que ninguém por serem todos iguais a mim, por haver sempre o dia em que todos são um pouco de mim, mas há os outros dias que eu sou o melhor que os outros têm.
Amo? Talvez, não tenho bem a certeza por não saber o que é o amor!
carinhosamente
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